Meu filho,
se te dissesse que poderia haver um mundo de duas classes,
em que uns trabalham e outros não,
e os que trabalham. mendigam, e passam fome,
e os inúteis gozam e desperdiçam.
Se te dissesse que poderia haver um mundo
em que uns tem tudo: pão, remédio, crianças, futuro,
- já nasceram proprietários do futuro! -
e os outros não tem nada, nem mesmo meios para a luta,
a grande luta desigual.
Se te dissesse que nesse mundo
há homens de automóveis, tapetes, mulheres perfumadas,
e homens na chuva, ao relento, mulheres nas calçadas,
e aos primeiros não causam a menor impressão tal acontecimento
e os outros não se revoltam, - estendem apenas as mão vazias - e exalam lamúrias.
Se te dissesse que a justiça e a fé são mercadorias inacessíveis
aos realmente necessitados:
e o direito é apenas a lei que manterá tal estado de coisas;
e há homens que jogam a riqueza pelo prazer de jogar
e outros que mereciam e morrem sem conquistá-la.
E se te dissesse que apesar de tudo esse mundo existe realmente
e vive, progride, e avança,
havias de me dizer: impossível, meu pai,
um tal mundo jamais poderia existir
nem poderia a vida afinal se tão má!
Entretanto, meu filho, basta abrires teus olhos,
aí está, - parece incrível, não é? - mas aí está!
(J.G. de Araújo Jorge)
Gostaria mundo que a Maria Clara conhecesse um mundo diferente deste apontado no poema
Um comentário:
esse poema sempre me emociona!
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